domingo, 10 de junho de 2007

Morte



Devia morrer-se de outra maneira. Transformarmo-nos em fumo, por exemplo. Ou em nuvens. Quando nos sentíssemos cansados, fartos do mesmo sol a fingir de novo todas as manhas, convocaríamos os amigos mais íntimos com um cartão/convite para o ritual do Grande Desfazer: "Fulano de tal comunica a V. Exa. que vai transformar-se em nuvem hoje as horas. Traje de passeio". E então, solenemente, com passos de reter tempo, fatos escuros, olhos de lua de cerimonia, viríamos todos assistir a despedida. Apertos de mãos quentes. Ternura de calafrio. "Adeus! Adeus!" E, pouco a pouco, devagarinho, sem sofrimento, numa lassidão arrancar raízes.. (primeiro, os olhos... em seguida, os lábios... depois os cabelos... ) a carne, em vez de apodrecer, começaria a transfigurar-se em fumo... tão leve... tão subtil... Tao pólen. como aquela nuvem ali,(vêem?)- nesta tarde de outono ainda tocada por um vento de lábios azuis...



By Anaritta

Um comentário:

Anônimo disse...

Esse era um ideal que nunca se tornará realidade...e como eu gostava que se tornasse real, evitaria tantas coisas..mas é um ideal fictício e, por ser fictício é que eu lido tao mal com a morte!
Eu não consigo suportar a ideia de que alguem proximo de mim se volte a afastar, nunca me sentirei preparada para que tal aconteça...e por lidar tão mal, não consigo suportar a dor da ausencia definitiva!por isso, posso-te pedir uma coisa?não te ausencies da minha vida...
beijinho grande*
(sabes pk o comentario?imagina o ke estava a fazer..a ouvir a tua musica -> actualizar) =)